Jul
A desglobalização – Pós-coronavírus
O coronavírus paralisou boa parte do mundo, tendo confinado em casa mais de 4,5 biliões de pessoas, silenciou as máquinas das indústrias, reteve os aviões e fez os governos encerrarem fronteiras para barrar este inimigo invisível. Acredita-se que a crise do coronavírus nas cadeias globais de valor vai desacelerar o processo de integração e a dinâmica comercial entre os países.
Um conjunto avassalador de fatores, como nacionalismo, protecionismo, rutura das cadeias de abastecimento e a maior crise de saúde pública num século, colocaram um travão à economia global, reduzindo as trocas comerciais a um nível que muitos designam de desglobalização.
A desglobalização é um processo em que o crescimento das exportações é reduzido, e que é compensado com um aumento no consumo interno, num efeito de curto prazo, os países adotam medidas protecionistas para defender os seus interesses.
O impacto do vírus na economia
Enquanto o coronavírus deixa milhões sem trabalho, as multinacionais que já enfrentam problemas económicos vão ter de começar a lidar também com uma interferência política crescente, enquanto enfrentam pressões domésticas para renacionalizar as suas cadeias de abastecimento mesmo que prejudicando a rentabilidade do negócio.
Na Europa, além dos mortos e doentes, o coronavírus deixou fissuras políticas na UE, reabrindo o abismo entre os países mais ricos do Norte e os mais pobres do eixo Mediterrânico nas discussões sobre a reconstrução do continente.
Esta crise trouxe lições, como o futuro da Europa e da economia ter de passar pelo reforço da componente industrial, e acelerou tendências, como a digitalização, a necessidade de maior proximidade aos clientes, a passagem de uma lógica de globalização para regionalização e a transição de uma produção mais eficiente para uma mais segura.
O mundo pós-pandemia
Sabemos que o verdadeiro antídoto para as epidemias não é a segregação, mas um alto nível de confiança e cooperação internacionais, isto porque os vírus evoluem. A melhor defesa que os humanos têm contra os patógenos não é o isolamento, mas a informação, uma vez ao entender-se o que provoca as epidemias, fica muito mais fácil combatê-las.
A pandemia está a acelerar as tendências de desglobalização. O mundo pós-pandemia será marcado por restrições mais rígidas ao movimento de bens, serviços, capital, trabalho, tecnologia, dados e informações. A tendência é de que as indústrias voltem a instalar as suas linhas de produção mais próximas do local onde os produtos são consumidos.
A covid-19 espalhou-se facilmente pelo mundo devido à interconectividade que a globalização trouxe. A Europa percebe agora que, para renascer desta crise, terá de desglobalizar, criando algumas barreiras à entrada e promovendo a reindustrialização e a sua soberania industrial.
Os desafios e oportunidades
Os desafios da desglobalização envolvem as alterações no mercado de trabalho pelos avanços tecnológicos e pela inteligência artificial; a disputa da água e de outros recursos; a evolução da economia circular; a uniformização (ou não) das práticas comerciais.
A Covid-19 poderá ser um ponto de viragem para a globalização, ao exigir que repensemos esta forma de organização das cadeias de produção, a dependência da China e a necessidade de voltar a debater uma política industrial europeia. Estamos a caminhar para um mundo de menor movimento de pessoas. O coronavírus já está a forçar restrições de viagens, acusações entre governos e uma série de ataques xenófobos em vários países.
Numa altura em que a Comissão Europeia anunciou a nova estratégia industrial ancorada na transição ecológica e digital para aumentar o peso da investigação e trazer mais produção e autonomia estratégica ao Velho Continente.
A desglobalização acredita-se ser um processo que veio para ficar por alguns anos, porque as empresas e os trabalhadores estão interessados em promover medidas protecionistas no médio prazo. Desta forma, esse cenário deve ser levado em consideração para propor alternativas de investimento no futuro que poderão ser apoiadas através das diversas medidas de apoio do programa Portugal 2020.
Artigo escrito por: